O lado negro do ouro: como a exploração mineira ilegal está a devastar África
A extração ilegal de ouro está a causar estragos em toda a África, deixando um rasto de degradação ambiental, disparidade económica e agitação social. Em países como o Gana, esta economia paralela - frequentemente designada localmente por "galamsey" - tornou-se um problema crítico que ameaça não só o ambiente, mas também a saúde e os meios de subsistência de milhões de pessoas.
O custo invisível do ouro
A extração de ouro é, desde há muito, a pedra angular de muitas economias africanas. No entanto, o aumento das operações mineiras ilegais introduziu uma série de problemas que ultrapassam em muito os benefícios económicos. As principais conclusões incluem:
- Degradação ambiental:
- Desflorestação e degradação dos solos: De acordo com um relatório da Câmara de Minas do Gana, as actividades mineiras ilegais levaram à destruição de mais de 2,5 milhões de hectares de floresta só no Gana.
- Poluição da água: Um estudo publicado no Journal of Environmental Statistics revelou que mais de 60% das massas de água nas regiões mineiras estão contaminadas com metais pesados como o mercúrio e o cianeto, o que representa graves riscos para a saúde das comunidades locais.
- Disparidade económica:
- Perda de receitas: O governo do Gana estima que perde cerca de $2,3 mil milhões de euros por ano devido às actividades mineiras ilegais, segundo dados da Autoridade Tributária do Gana.
- Exploração dos trabalhadores: Os mineiros ilegais trabalham frequentemente em condições perigosas por um salário mínimo, sem qualquer forma de proteção legal ou direitos laborais.
- Agitação social:
- Deslocação de comunidades: O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) relata que comunidades inteiras foram deslocadas para dar lugar a operações de mineração ilegal.
- Riscos para a saúde: As doenças respiratórias e outros problemas de saúde aumentaram nas zonas mineiras, com as clínicas locais a registarem um aumento de 40% das doenças relacionadas com estas actividades nos últimos cinco anos.
O Gana: Um estudo de caso sobre a crise
O Gana, um dos maiores produtores de ouro de África, está no epicentro desta crise.
- Operações Galamsey:
- Apesar das medidas repressivas do governo, as actividades de galamsey têm persistido. Um inquérito realizado em 2019 pelo Serviço de Estatística do Gana revelou que a extração ilegal representa cerca de 35% da produção de ouro do país.
- A utilização de maquinaria pesada e de produtos químicos sem regulamentação adequada agrava os danos ambientais.
- Resposta do Governo:
- Em 2017, o governo do Gana lançou a Operação Vanguard, uma força-tarefa militar com o objetivo de erradicar a mineração ilegal. Embora os resultados iniciais tenham sido promissores, a operação enfrentou desafios devido à corrupção e à falta de recursos, conforme detalhado num relatório do Natural Resource Governance Institute.
- Impacto na comunidade:
- Os agricultores perderam terras férteis para os poços de mineração, levando à insegurança alimentar. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) regista uma diminuição de 20% da produção agrícola nas regiões afectadas.
- A educação foi perturbada com o encerramento de escolas devido à poluição e a condições inseguras, afectando as perspectivas de futuro dos jovens.
Factores que contribuem para a situação
Vários factores contribuem para a persistência da exploração mineira ilegal:
- Pressões económicas:
- As elevadas taxas de desemprego empurram os habitantes locais para a exploração mineira ilegal como meio de sobrevivência. O Banco Mundial refere que o desemprego dos jovens no Gana é de 12% e o subemprego é superior a 50%.
- Lacunas regulamentares:
- A fraca aplicação da regulamentação mineira e a corrupção permitem o desenvolvimento de actividades ilegais. O Índice de Percepções de Corrupção da Transparência Internacional classifica o Gana em 75º lugar entre 180 países, salientando os desafios de governação.
- Procura mundial de ouro:
- A subida em flecha do preço do ouro no mercado internacional incentiva a extração ilegal. Em 2023, os preços do ouro atingiram mais de $1.800 por onça, de acordo com a Gold.org.
O custo humano
Histórias pessoais trazem à luz as terríveis consequências da mineração ilegal:
- Ama MensahAma Mensah, uma agricultora da região ocidental do Gana, conta como as suas terras agrícolas foram invadidas por mineiros ilegais durante a noite. "Acordei e vi máquinas a destruir a minha exploração de cacau. Não havia nada que eu pudesse fazer", disse ela à Al Jazeera.
- Kwame Asanteum antigo trabalhador da galamsey, descreve as condições perigosas nas minas. "Usávamos ferramentas improvisadas e não tínhamos equipamento de segurança. Vi amigos morrerem quando os poços se desmoronaram", partilhou com a BBC.
Um apelo à ação
Para combater o flagelo da exploração mineira ilegal é necessária uma abordagem multifacetada:
- Reforçar os regulamentos:
- Os governos devem fazer cumprir a legislação sobre mineração e responsabilizar os infractores. A colaboração com organismos internacionais pode proporcionar o apoio e a supervisão necessários.
- Diversificação económica:
- A criação de oportunidades de emprego alternativas pode reduzir a dependência da extração mineira ilegal. O investimento em sectores como a agricultura, a educação e a tecnologia é crucial.
- Envolvimento da comunidade:
- A capacitação das comunidades locais através da educação e de recursos pode permitir-lhes resistir às actividades mineiras ilegais. As ONG e as organizações da sociedade civil desempenham um papel vital neste domínio.
- Cooperação internacional:
- Dado que a procura global alimenta a extração mineira ilegal, as partes interessadas internacionais devem garantir que as suas cadeias de abastecimento estão isentas de ouro ilícito. Iniciativas como o Guia de Diligência Devida da OCDE fornecem quadros para um aprovisionamento responsável.
Conclusão
O lado negro do ouro lança uma longa sombra sobre África, particularmente em países como o Gana, onde a extração ilegal devasta as comunidades e o ambiente. Ao misturar dados concretos com narrativas pessoais, a gravidade da situação torna-se inegável. É imperativo que os governos, as organizações internacionais e as comunidades colaborem na erradicação da exploração mineira ilegal. Só assim poderemos ter esperança de preservar os ricos recursos de África para as gerações futuras e garantir o bem-estar da sua população.